A falha como linguagem: o que a dança ensina sobre não controlar tudo

07/07/2025

Em dança, o corpo aprende errando.
Tropeça, desencaixa, desorganiza. E repete. Repete até o gesto fazer sentido, até o peso encontrar o tempo, até o desequilíbrio virar linguagem.

Na sala de aula, poucos aprendizados são tão claros quanto esse: controlar tudo é impossível.
O que parece falha, às vezes, é só o começo de uma outra escuta.

Na cultura da performance constante, em que tudo precisa estar pronto, limpo, editado, a dança oferece o oposto: um processo exposto. Não há como esconder o tempo do corpo. Ele precisa repetir, esquecer, tentar de novo. Precisa entender na prática que aprendizado não é linha reta, é espiral.

E essa espiral serve para muito além da dança.

A repetição, longe de ser algo automático, é uma forma de aprofundar. Cada vez que se tenta o mesmo movimento, algo sutil muda: o eixo, o foco, a respiração. Da mesma forma, em qualquer aprendizagem real, seja tocar um instrumento, se reinventar profissionalmente ou mudar um hábito, é preciso estar disposto a repetir com atenção. Sem garantia de acerto, mas com abertura para escutar o que aparece no caminho.

A dança ensina que errar não é o contrário de aprender. É parte fundamental do processo.

Mais do que isso: ensina que o corpo sabe lidar com o erro. Que cair pode ser coreográfico. Que improvisar pode ser resposta. Que a falha carrega informação e que, quando não há espaço para o erro, também não há espaço para o risco, para a descoberta, para a criação.

Em um mundo que cobra prontos, a dança acolhe processos.
E talvez seja por isso que tanta gente volta para ela, não para dominar o próprio corpo, mas para se reconciliar com a ideia de que viver (como dançar) não é sobre perfeição.