Corpo que pensa. Mente que dança: o impacto da dança na saúde mental
26/06/2025
Há algo na dança que nenhum espelho reflete por completo: o que ela movimenta por dentro.
Em tempos de aceleração, hiperconexão e estímulos contínuos, encontrar uma prática que convoque corpo e mente ao mesmo tempo, de forma integrada e sensível, é quase um privilégio. E a dança faz exatamente isso. Ela exige foco, escuta, ritmo, respiração. Ela interrompe a dispersão e nos devolve ao presente.
Estudos em neurociência e psicologia já mostraram que dançar regularmente pode reduzir os níveis de cortisol (o hormônio do estresse), aumentar a liberação de endorfinas e melhorar o humor de forma significativa. Mas a dança vai além da bioquímica. Ela nos obriga a sair do modo automático. A construir presença. A ocupar espaço com intenção. E isso tem efeitos profundos sobretudo em uma cultura que, por muito tempo, separou corpo e mente como se fossem opostos.
Na prática, dançar nos convida a perceber o corpo não como uma máquina de desempenho, mas como território vivo. Cada gesto, cada pausa, cada deslocamento é uma oportunidade de escutar sensações, elaborar emoções e transformar experiências subjetivas em movimento. É comum ouvir de alunas e alunos: “eu cheguei cansada, mas saí leve”, ou ainda, “não consegui pensar em mais nada enquanto dançava”. E esse “não pensar” é, muitas vezes, um pensar diferente, mais intuitivo, mais corporal, mais criativo.
Ao contrário de práticas puramente físicas, a dança pede interpretação. Ela atravessa histórias, ativa memórias, resgata desejos. Em danças como o flamenco, por exemplo, a força vem da emoção. No jazz e nas danças urbanas, o corpo fala com o tempo. Já no contemporâneo, há espaço para a escuta do desequilíbrio, da suspensão, do inesperado. Cada linguagem oferece uma porta diferente para esse encontro com o que sentimos e, às vezes, nem sabíamos que estava ali.
Num mundo onde tanto se fala em saúde mental, a dança segue sendo uma forma potente de reconexão. Não como solução mágica, mas como prática constante de escuta e expressão. Um lugar onde o corpo não é julgado, mas sentido. Onde a mente não é sobrecarregada, mas atravessada por outras formas de estar.
Talvez seja por isso que, mesmo depois de décadas, quem dança não abandona a sala. Porque sabe, no corpo, que dançar não é escapar da vida. É atravessá-la com mais presença.