O corpo que pensa: por que dançar também é filosofar?
07/04/2025
Nem todo pensamento nasce de uma ideia. Às vezes, ele emerge de um gesto.
Na dança, sobretudo na dança contemporânea, o corpo não é um simples executante. Ele propõe questões, tensiona certezas, habita paradoxos. É possível ver, por exemplo, uma coreografia que não busca beleza nem simetria — e, ainda assim, nos captura. Por quê? Porque o corpo, ali, está pensando.
Pensar dançando não é sobre representar ideias com os movimentos. É sobre viver o pensamento no próprio ato de mover. Um corpo que cai repetidamente ao chão pode estar falando de exaustão, de fracasso, de insistência. Mas mais do que falar, ele está experimentando tudo isso, diante de quem assiste — e com quem assiste.
Nesse sentido, dançar pode ser tão filosófico quanto escrever um ensaio. Mas ao invés de palavras, usamos tensões, pausas, desequilíbrios, repetições. Não há tese, argumento e conclusão nos moldes acadêmicos. Há presença. Há um corpo que pergunta sem querer necessariamente responder. Há a escuta do que emerge, não do que se impõe.
Em tempos de hiperprodução de conteúdo e sobrecarga mental, talvez seja urgente pensar com o corpo. Não como fuga, mas como caminho legítimo de percepção e elaboração do mundo. A dança ensina isso sem didatismo. Ela não quer convencer. Quer abrir espaço. E nos lembra que nem toda inteligência é racional, e que o entendimento pode vir de dentro, da pele, dos ossos — onde, às vezes, moram as verdades que não conseguimos dizer.